Fiocruz alerta que são cada vez maiores as filas de espera por vaga em UTI, nas redes pública e privada do Rio de Janeiro, onde aumenta também o número de mortos em casa.
A Covid-19 segue em trajetória de crescimento em grande parte do Brasil. São 174.515 mortos e 6.436.650 infectados desde o início da pandemia, em março. Nas últimas 24 horas, 698 vítimas e 49.863 contaminados registrados, de acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde – Conass. Enquanto o vírus se alastra sem controle, cidades e estados passam a viver situações dramáticas.
É o caso do Rio de Janeiro. A rede pública está com 90% de leitos de UTI esgotados e a privada, 98%. A situação é próxima a de colapso do sistema de saúde. O cenário se repete, com intensidades diferentes, em outros estados.
Santa Catarina, por exemplo, vive o pior momento da pandemia desde o início do surto. O Estado superou o número de casos oficiais do Rio de Janeiro, com 378.621, contra 361.397 dos fluminenses. Com mais de 33 mil casos ativos da doença, os catarinenses acumularam na terça-feira, 1, o maior número de novos casos, 2.469, além de 47 mortes. Toda Santa Catarina está em estado de alerta máximo.
À beira do colapso – Embora ultrapassado por Santa Catarina no número de casos, o Rio de Janeiro segue com o segundo maior número de mortos: são 22.764, frente a 42.456 de São Paulo, que lidera. A conjuntura fluminense preocupa especialmente pelo esgotamento do sistema de saúde.
De acordo com dados da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, divulgados ontem, 3, no boletim MonitoraCovid19, a capital fluminense vivencia um aumento preocupante de mortos em casa por falta de assistência médica. De abril até a primeira quinzena de novembro, foram 14 mil vítimas em domicílio, frente à média de 10 mil nos últimos cinco anos.
A ausência de leitos impacta também o tratamento de outras doenças, o que provoca um grande número de mortos indiretos pela Covid-19. Desde abril, a cidade registrou 27 mil mortes consideradas “em excesso”, ou seja, a mais do que a média esperada. Destes, 13 mil foram confirmados como em razão da Covid-19 e 14 mil vítimas de outras doenças, como cardíacas. Os dados revelam o déficit do sistema de saúde frente ao momento de grande exigência. Com a menor oferta de leitos e uma demanda reprimida de pacientes que ficaram em segundo plano no início da pandemia, muitas pessoas infectadas pelo novo coronavírus ou que lutam com doenças crônicas ficaram sem atendimento médico ou UTIs. O resultado é que já estão morrendo dentro de casa.
Os dados obtidos pelos estudos revelam “um quadro de desassistência geral, que não se restringe aos hospitais, mas também à rede de atenção básica e ao sistema de vigilância em saúde”, afirma em nota a entidade.
“Já vemos o colapso no sistema. Dentro dos hospitais estamos com muitos problemas, mas fora também. E nem todos foram por Covid-19, mas indiretamente ficaram sem assistência. Além disso, ser hospitalizado não garante vaga em UTI. Muitos estão morrendo por Covid-19 fora de UTIs, mesmo confirmados como casos de Covid-19”, comenta o sanitarista Christovam Barcellos, membro do MonitoraCovid-19 e pesquisador da Fiocruz.
Os especialistas concluíram que, do total de mortes no Rio de Janeiro pelo coronavírus, somente 40% foram em UTIs. “Provavelmente mais da metade da população que veio a óbito por Covid-19 no município sequer teve a chance de receber atendimento intensivo”, alerta o documento.
“Temos outras doenças que não pararam no tempo. Isso poderia ter sido evitado se acompanhássemos a segunda onda na Europa. Era previsível que acontecesse aqui também”, avalia Gulnar Azevedo, professora de epidemiologia da Uerj e presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco.
Na rede privada, como o jornal mostrou ontem, a situação também é preocupante, já que 98% dos leitos de terapia intensiva do município do Rio estão ocupados, e pacientes com planos de saúde já enfrentam filas.
Cenário previsto – Diante do fraco plano de vacinação do governo federal, que assume a impossibilidade de vacinação em massa em 2021, seriam necessárias medidas práticas de contenção do vírus. Especialmente as que envolvem distanciamento social e controle sanitário, através de testagem em massa.
Na segunda-feira, 30, a Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ divulgou nota técnica para pedir medidas de isolamento social no Rio de Janeiro. O Grupo de Trabalho Multidisciplinar para o Enfrentamento da Covid-19 da UFRJ pediu, entre outras ações, o fechamento de praias e suspensão de eventos de massa, como culturais, sociais e esportivos.
“Estamos diante de um quadro muito preocupante no município do Rio (…) O aumento dos casos já está provocando grande estresse no sistema de assistência à saúde (…) A média móvel de sete dias do percentual de ocupação de leitos do Sistema Único de Saúde (UTI adulto) dedicados à Covid-19 na Região Metropolitana I está em 93,5%. Já a média móvel de sete dias do percentual de ocupação de leitos de suporte à vida da Rede SUS no município está em 102,1%. Ou seja, não há vagas para internação”, afirma o grupo da UFRJ.
Por fim, a universidade alerta para o “risco elevadíssimo” de colapso no sistema de saúde, e que “muitos, especialmente os mais jovens, têm se aglomerado em festas, bares, praias e outros eventos sociais. O processo eleitoral, fundamental à democracia, também gerou aglomerações”.
São Paulo – As mortes causadas pela Covid-19 em São Paulo crescem sem parar há quatro semanas. Na última semana de outubro, ocorreram 95 óbitos. Na semana entre 21 e 27 de novembro, quando o prefeito reeleito, Bruno Covas (PSDB), dizia que havia estabilidade na pandemia, ocorreram 175 óbitos. O que representa um aumento de 84% em quatro semanas.
Os dados de mortes causadas pela doença na capital paulista mostram um aumento contínuo. Na semana entre 17 e 23 de outubro, foram 95 mortes. O número se repetiu na semana seguinte. Entre 31 de outubro e 6 de novembro, foram 103 óbitos. Do dia 7 ao dia 13 de novembro, 132. Na semana seguinte, 14 a 20 de novembro, 138 mortes. E, na semana de 21 a 27, 175.
Por conta disso, um dia após o segundo turno das eleições, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), confirmou o recuo na flexibilização e anunciou que 100% das regiões do estado retornam à Fase Amarela do Plano São Paulo, programa de regras das medidas restritivas devido à Covid-19.
Com a fase amarela, a ocupação dos estabelecimentos fica limitada a 40%; o funcionamento volta a ser de dez horas por dia, com limite de horário até as 22h; e eventos com público em pé ficam proibidos. Cinemas e teatros não terão alteração no funcionamento. Já no caso dos parques, o horário de abertura depende da avaliação dos municípios.
Fonte: CNTS, Rede Brasil Atual, O Globo e Folha de São Paulo.